26 agosto 2005

Novamente, Bandeira...

O Último Poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Manuel Bandeira

05 agosto 2005

Nada

Estava ali por um certo tempo, mergulhado na brancura de uma folha de papel. O olhar perdido na imensidão alva nos punha a pensar se ele não esperava uma erupção de palavras a surgir do nada, para preencher aquele vazio de emoção. Engano.
A mão trêmula, que ansiava por desenhar idéias, era por onde se dava vazão para a mente em ebulição de sentimentos. A dor, a tristeza, a ansiedade. Tudo ao mesmo tempo em um só pensamento. E assim vivia o poeta, vomitando o seu vazio em sonetos adornados com a beleza que a melancolia lhes proporcionava. E aos olhos do mundo parecia um morador eterno do paraíso, cheio de felicidade, de onde se alimentava de inspiração para a composição da melodia poética de palavras. Agora jazia ali, sentado e enfeitiçado por um nada aparente. A velocidade das lágrimas não mais existia. Sequer as lágrimas.
Assim respirou por infindo tempo, até ser despertado por um pássaro que pousara no parapeito da sua janela. Tocado pela indiferença do poeta, cantou o ser sobre a razão daquele nada de coisa alguma. Como que renascido, inclinou a face em sua direção e explicou que não mais sentia prazer em escrever sobre a cor do céus ou a leveza da chuva de verão. Não enxergava mais o brilho das lágrimas ou tinha receio da escuridão. Só o que agora restava era a lembrança do beijo de um anjo que o libertou da angústia da solidão. Olhava a folha alva, pois era a única lembrança do que pensou naquele momento mágico em que o amor penetrou no seu coração.