31 julho 2005

Arte de Amar


"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."

Manuel Bandeira
(1886-1968)

27 julho 2005

EU ME LEMBRO...

Hoje estive a sonhar somente com os olhos fechados. Voava pelo nosso planetinha, que ficou "inha" diante da velocidade em que ia de um lugar a outro. Com pouco tempo fiz visitas à vários lugares que eu conhecia e ao dobro deles que nem sequer existiam. O sol era pálido demais, com um amarelo seco. Pois o fiz anil. E por que não colocar o Sol e a Lua juntos? Pois assim foi feito. Um céu verde, com nuvens cor-de-rosa, o Sol anil e uma Lua lilás. Ainda haviam as planícies, com uma fusão de cores sem igual. Já no chão, percebia-se que a aparente confusão de cores era na verdade o casamento de várias delas. E belos por sinal. Podia-se sentir aquela fragrância por toda parte. Um perfume que variava com a luz e a música das árvores cantantes. Era difícil distinguir um sentido do outro. Havia, na verdade, uma sensação única e absoluta. Uma sensação que correspondia com tudo.
Este foi um sonho. Com tudo o que não existe quando estamos de olhos abertos. Tudo isso existiu em um momento, ainda que curto. Marcou e deixou lembranças. Assim como o passado que não mais existe, os sonhos deixam lembranças reconfortantes (os sonhos, não os pesadelos), e impreguinam nossa alma com um sentimento de felicidade. Tanto o é que odiamos quando alguém nos desperta, interrompendo uma boa "ilusão" que vivíamos em nossos castelos suspensos no ar. É interessante quando descobrimos que podemos encontrar alguma felicidade (alguns diriam utilidade) em lembranças de algo que não existiu enquanto estávamos acordados. Passo a divagar na velha filosofia sobre o que é sonho e o que é realidade. Ou será que não existe essa diferenciação? Bom, ao menos serve para entender que o que não existe é aquilo que não se conhece. E se há lembranças, então existiu em algum momento, em algum lugar. É uma pena o ser humano ainda ser relutante a aceitar a mente e a alma como uma parte do seu ser, desprezando a beleza poética que existe em perfectibilizar o impossível e fazer existir o que não se lembra.

25 julho 2005

ETERNO

Engraçado saber que em nossas vidas sempre buscamos "ter" as coisas. Aquele emprego, carro, ou uma família perfeita...e esta última "coisa" (a mais sublime!) é talvez a mais difícil. Isso porque não escolhemos, já nascemos com ela, ou ela nasce depois da gente, e somos ligados até o fim da vida. E é este fim que me fez pensar ultimamente.
Em nossas vidas solitárias buscamos estar próximos de todos que amamos, ter por perto as coisas que nos deixam confortáveis ou que nos faça lembrar de bons momentos. Já dizia o Rubem Alves sobre a imagem poética que é a fotografia. A imagem estática talvez traga mais emoção, porque encerra nela a lembrança e o silêncio, e deixa que o pensamento divague em bons momentos que já foram e não voltam mais.
Esse é o ponto. A única certeza que temos na vida é que ela termina. E com ela ficam as coisas que cultivamos com tanto apreço. Ainda assim não suportamos a dor da separação. Chega a parecer um sarcasmo da vida. No entanto, serve para refletir sobre o eterno. Como a fotografia, nossas vidas realmente se resumem ao sentimento que se eterniza em vários corações que tocamos durante nossa passagem. E hoje despertei para o quanto incrível é tocar os corações daqueles que amamos. Compreendi que nossas vidas são os sentimentos que semeamos e que depois florescem como num jardim eterno de cores e cheiros, capazes de alegrar os corações e propagar nossa existência em boas lembranças. Somos eternos!
*** Blog Amigo novo: Aleatorizando. Ótimo, com textos muito inteligentes e com sensibilidade (especialmente crítica) para vários temas! Visitem!

20 julho 2005

O HOMEM, BICHANO DO SONHO


Esta é a essência da vida: busca pela realização de sonhos. E os sonhos são o oposto da realidade. Trazê-los para perto de nossos sentidos é infinda luta. O real não cabe o sonho. Aquele é preto e branco, pálido, árido, não tem vida própria. Nossos sonhos são coloridos, da cor que quisermos, e de todas as cores que não existem. São muito belos, muito feios, são o universo numa poça d’água. São todos os meses do ano em um só dia. Nos sonhos o gosto toma vida, toma forma e aparência. A melodia atravessa a alma e o corpo que não somos. O amor vira delírio; a raiva o pandemônio dos sentimentos. Tudo o que parece ser não o é, e o que pode ser se revela. E quando menos se espera o pensamento mais fútil toma a cena. Assim é esse descontrole de tudo, esse pulso do desconhecido, essa criança hiper-ativa, ciranda de emoções. A razão torna-se alvo e é derrotada pela emoção. É a loucura, chamada de inconsciente. A vida paralela que queremos ter, e ela a nós. É a loucura: a razão se descobrindo, olhando no espelho e não mais querendo ser.

16 julho 2005

CLARAS AMIZADES CLARAS

Amizades são a união de amores, o saudosismo a bons momentos, alegria de poder chorar a felicidade no ombro amigo e receber lágrimas como a melhor manifestação do amor recíproco. É ter medo e coragem ao mesmo tempo, porque ainda que a separação seja inevitável ela é apenas momentânea, e mesmo que as mãos não se alcancem o amor amigo sempre habita no pensamento.
Diga ao outro o quanto você o ama. Diga também que não o entende às vezes, ou o quanto ele fica irritante com aquela brincadeira de sempre. Fale sobre o que você sente, e o que gostaria de sentir. retire todos os obstáculos que impedem que o amor verdadeiro se manifeste. Limpe sua amizade. Não deixe nada nas entrelinhas. Diga tudo o que pensa sobre seu amigo, porque só assim a amizade será verdadeiramente pura. A confiança será absoluta, pois agora ambos se vêem como um reflexo do outro, límpido e real. E o amor ficará mais forte do que nunca, e seu amigo se tornará uma fortaleza onde você poderá contar sempre como abrigo e proteção. Não desperdice uma oportunidade sequer de ser verdadeiro. E quando ouvir dele umas boas verdades seja humilde para reconhecer a sua coragem em arriscar a amizade para alertá-lo e abrir-lhe os olhos. Seu amigo quer sempre seu bem, mesmo com um tom de voz ríspido ou gestos impacientes. Acredite!
Seja condescendente. Abrace e aceite o outro como ele é. Faça da sua amizade uma amizade clara, e verá que ambos saberão lidar melhor com as diferenças. Restará muito mais tempo para viverem juntos a alegria de serem queridos.

13 julho 2005

MORANGOS À BEIRA DO ABISMO

Um homem ia feliz pela floresta quando, de repente, ouviu um urro terrível. Era um leão. Ele teve muito medo e começou a correr. O medo era muito, a floresta era fechada. Ele não viu por onde ia e caiu num precipício. No desespero agarrou-se a uma raiz de árvore, que saía da terra. Ali ficou, dependurado sobre o abismo. De repente olhou para a sua frente: na parede do precipício crescia um pezinho de morangos. Havia nele um moranguinho, gordo e vermelho, bem ao alcance da sua mão. Fascinado por aquele convite, para aquele momento, ele colheu carinhosamente o moranguinho, esquecido de tudo o mais. E o comeu. Estava delicioso! Sorriu, então, de que na vida houvesse morangos à beira do abismo...

Rubem Alves

12 julho 2005

ESTRÉIA !!!

Sobre lágrimas...

Existe algo mais puro?Sempre delicada, doce e amarga
Quando feliz, cai por felicidade pura
Quando triste, cai por preferir a felicidade
Quando solitária, cai por preferir a companhia
Quando acompanhada, revela o desespero
De não saber o que ser sem o amor
A vida sem amor é seca, algoz da lágrima

Infeliz daquele que não sabe o que é pranto
Que não conhece o mundo sem tristeza
Que não sente seus olhos tremerem
Que não balbucia um nome
Que não amaInfeliz por ser árido, firme, protegido
Assim é o coração que não conhece
A ternura da lágrima, o calor do amor
Que não clama por sentir seu corpo tremer
Por lembranças reconfortantes de um momento
Que outrora viveu, e sempre clama por reviver
Assim é o coração do amante, embebido em lágrimas
Por querer alguém e não poder.